Russian Doll: morrer para viver

 I don’t know what I’m doing. I was gonna go home and fuck this guy, but now I just feel so profoundly empty.

Nadia Vulvokov

Esta série da Netflix é surpreendentemente cativante e uma excelente opção para quem não quiser ou não estiver com a disponibilidade mental para assistir a episódios de uma hora, que parecem ser a norma hoje em dia, das séries mais em voga. E depois tem Natasha Lyonne como protagonista, uma mulher que é ridiculamente carismática e que, neste caso, carrega a série às costas.

A verdade é que a escrita ajuda muito também, mas caramba, por onde andou Natasha estes anos todos? Só me lembro da mulher no American Pie e isso foi há uns vinte anos!

Russian Doll segue o estilo narrativo popularizado com Groundhog Day, que consiste num ciclo infinito de repetição do tempo. Natashsa Lyonne, ou melhor Nadia Vulvokov, no dia do seu aniversário acaba por morrer para, inexplicavelmente, logo a seguir, regressar “vivinha” da silva à sua festa de aniversário. Mantendo as memórias de todas as repetições, com a eventual ajuda de diversas pessoas e uma outra personagem com o mesmo estranho destino, Nadia tenta descobrir o que raio se está a passar.

É essa investigação que iremos acompanhar e que torna esta série muito interessante. Russian Doll, no fundo, é uma alegoria e uma metáfora para a maior parte das vidas das pessoas.

Creio que muita gente se vai identificar com a série, embora a princípio pareça que Russian Doll é algo “presunçosa” e que a Nadia não é nada mais que a típica mulher cínica, pedante, de nariz empinado, que se acha dona do seu destino e que não precisa da ajuda de ninguém. Mais para a frente, percebe-se que Nadia e o outro personagem principal, Alan Zaveri, sofrem de muitos dos males que assolam a sociedade actual: solidão, culpa, medo e depressão.

Na procura por uma solução para toda aquela repetição, durante todas as questões existenciais que vão surgindo, enquanto vão explorando a mortalidade e experimentando tudo aquilo que faz deles serem humanos, Nadia e Alan, acabam por chegar à conclusão que para poderem seguir em frente na vida, têm que se ajudar mutuamente.

Talvez seja essa a mensagem principal de Russian Doll. No fundo, temos que aceitar a ajuda de alguém para podermos ultrapassar um caminho de destruição própria. Não vale a pena escondermos-nos de nós nem fingir que tudo está bem, quando existem bloqueios emocionais ou apenas andamos a repetir os mesmos erros todos os dias.

Excelente banda sonora, humor extraordinário, drama, questões certas, respostas, erros, perdão, aceitação, vida e morte, e uma actriz muito carismática. Boa série!

O regresso aos universos de Fringe

Lembro-me perfeitamente de acompanhar Fringe. Recordava-me dos finais espetaculares, sempre inesperados, de temporada. Recordava-me do elenco fortíssimo. Recordava Walter Bishop com saudosismo. A sua demanda e o seu amor pelo filho, filhos, inabalável. Recordava Peter Bishop, o filho, que se tornou pai. Olivia Dunham a agente “sem emoções” que afinal era a mais emotiva. Astrid, a quem Walter trocava sempre o nome. Broyles ,com a sua postura. Nina Sharp, Belly, etc.

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Erased: mudar o passado

O Netflix tinha acabado de lançar esta série e eu, após ler a sinopse e ver que a duração dos episódios era curta – devo dizer que após Dark, uma série com episódios de 20 minutos parecia ser o que mais precisava – decidi experimentar e dar uma hipótese.

Portanto, Erased (Bokudake ga Inai Machi) é uma série japonesa baseada num animé japonês que por sua vez é baseado num manga japonês. E, meus amigos, nota-se claramente que estamos a ver um produto nipónico live action baseado num animé.

Para ser sincero, eu gostei. Aliás, incluí Erased nas melhores séries que vi em 2017. Não é que seja absolutamente indispensável, mas cativou-me. Existe uma inocência tipicamente japonesa, uma forma de contar histórias muito própria, paradoxos temporais à parte, que eu gostei bastante.

E, depois, é tudo muito competente em Erased, seja o elenco (as crianças são adoráveis, especialmente o ator principal) ou a realização (belíssima fotografia), e o facto dos episódios serem curtinhos com uma boa dose de mistério e drama – aliás, o busílis de Erased centra-se na solidão e na forma com ela molda as pessoas e as muda – não tornam a coisa aborrecida, existindo uma vontade de ver o próximo episódio.

Agora a ver se vejo o animé.

Top 5 – Séries de 2017

Chegou a vez de fazer o meu top das melhores séries que eu vi este ano. Não vi muitas, mas ainda assim vi mais séries do que filmes. Sem enrolar mais, aqui fica a lista:

1 – Game Of Thrones (temporada 7)

O final aproxima-se e esta sétima temporada teve momentos bastante bons e elevados níveis de produção.

2 – Dark (Temporada 1)

Fotografia de enorme qualidade e um mindfuck alemão que hipnotiza e confunde.

3 – Stranger Things (Temporada 2)

As coisas continuam bem estranhas para as crianças mais adoraveis da televisão. Aham, e a banda sonora mantém a excelência.

4 – The Expanse (Temporada 1 e 2)

Série de ficção científica muito interessante com uma conspiração central que é uma fachada para outra conspiração ainda maior.

5 – Erased (Temporada 1)

Na verdade, as crianças em Erased são as mais adoráveis da televisão.  Episódios pequenos, cultura japonesa e história suficientemente cativante.

Dark: o tudo é agora

É certo que Dark aproveita o sucesso de Stranger Things em algumas coisas, mas é uma experiência à parte.

Ainda não sei bem se não fui ludibriado pela excelente música ou pela fotografia fantástica, que me fizeram ficar embrulhado numa centrifugadora de momentos paradoxais mindfucking hipnotizantes.

Uma cena: podem pensar que seria porreiro ter o vosso eu futuro a falar com o vosso eu presente que entretanto andou pelo passado a fuçar, (e que depois vai para o futuro também) mas, se pensarem bem e ouvirem o nosso amigo Jonas, não é porreiro, é chato, pois podem acabar por andar aos beijos à vossa tia! E gostar!

The Glitch: de volta à vida

Numa pequena cidade acontece o impossível: seis mortos ressuscitam! É um acontecimento que vai tornar a vida do polícia James Hayes um verdadeiro rodopio de emoções, uma vez que ele testemunha essa ressurreição e decide manter os ressuscitados em segredo e sob sua alçada pessoal.

Esta série tem uma premissa interessante e foi com relativo interesse que vi as duas temporadas até ao fim.

Na verdade achei a primeira melhor que a segunda. Pareceu-me que, à medida que vão sendo revelado alguns segredos, a coisa começou a tornar-se um pouco absurda demais.

Eu sei, pessoas mortas que voltam já é absurdo que chegue. Mas… Não sei bem, acho que a série perdeu um pouco o rumo e qualidade na segunda temporada.

Os primeiros seis episódios focam-se muito nas personagens e eu gostei disso. Aquelas pessoas não se lembram da vida que tiveram, muito menos porque ressuscitaram, mas a série vai mostrando aos poucos a vida que eles tiveram e às vezes nem tudo o que parece é.

A mitologia da série também marca presença, mas o que mais me despertava interesse era saber o que aconteceu com aquelas seis pessoas em vida. Saber porque razão ressuscitaram era menos importante. Pelo menos para mim.

A segunda temporada, embora continue a focar nos ressuscitados, expande a mitologia e foca-se mais nas perguntas: Porque razão estão vivos? Como é que isso aconteceu?

Não gostei de algumas coisas que foram introduzidas na mitologia da série e confesso que à medida que o mistério se vai dissipando, o meu interesse também diminui.

De qualquer maneira, acho que The Glitch vale uma espreitadela. Embora exista por ali algum exagero no drama, e tenha perdido um pouco de interesse e força nos últimos episódios, devo dizer que estou com alguma curiosidade em saber o que aí vem numa terceira temporada.

Slasher :eu sei o que vocês fizeram

É mesmo original ter como título Slasher, devo dizer. De qualquer maneira, e como o Netflix me sugeriu esta série, que é de terror e para maiores de 16 anos – o que implicava alguma violência e sangue onscreen – decidi encolher os ombros e carregar no play.

É a “clássica” história da malta que se encontra num sítio no meio do nada, sem rede como é óbvio, e que começa a ser dizimida.

Claro que para a coisa ser mais interessante, a malta divide-se em dois grupos: a malta que já se encontrava no lugar isolado e a malta que vai para o lugar isolado porque tem um segredo obscuro que se torna num problema grave e então têm que arregaçar as mangas e resolver o problema grave, que consiste em ir buscar o cadáver de uma jovem que mataram numa noite que se descontrolou após se descobrirem segredos e ciúmes e traições que envolvem sexo e humilhações e, basicamente, todas as bodegas que a malta jovem faz quando não sabe utilizar o cérebro de forma adequada.

E pronto. Estão a ver a premissa do I know what you did last summer? Basicamente a mesma porcaria.

É verdade que existe sempre curiosidade em descobrir quem é o assassino, e algumas mortes são bem violentas e gráficas. Os diálogos e as personagens também não são maus, e embora nada seja espetacular, achei que a coisa fluiu de forma suficientemente interessante.

Lá está, tudo o que esta segunda temporada de Slasher oferece não é nada de novo. Já se viu muitas vezes. Mas também já vi pior.

ps: Como curiosidade, no final, descobri que vi a segunda temporada, mas isso até nem me irritou muito, uma vez que Slasher faz parte das séries que têm um história diferente em cada temporada. E se calhar até vou ficar por aqui, uma vez que as interwebs não falam muito bem da primeira.