2001: A Space Odyssey (1968)

2001: A Space Odyssey é um filme difícil de explicar por palavras. Genial para uns, aborrecido de morte para outros, é considerado por muitos a grande obra-prima de Stanley Kubrick.

Não é um filme feito para entreter. Exige mais de quem está a assistir. Quem conseguir isso irá assistir a um dos mais desafiantes e mais belos filmes de sempre. Sem dúvida! O que Kubrick conseguiu fazer há mais de 40 anos atrás foi magia!

Acompanhamos, na história desta fita, a evolução do homem.

Do início, em que eramos uns macacos com pouca capacidade cognitiva; passando por uma época de tecnologia em que conseguimos criar um super-computador capaz de simular emoções complexas; e terminando num futuro em que, possivelmente, algo de auspicioso nos espera a nós, humanidade.

Para essa evolução ocorrer, Kubrick sugere que houve intervenção de um artefacto feito por alguém que não nós.

A nossa curiosidade – desde o início em que éramos macacos até ao presente dia em que somos seres de enorme inteligência, seres que questionam o seu lugar no Universo – perante aparição de tal objecto incita a uma evolução exponencial.

O primeiro acto, ou melhor, o primeiro estágio da evolução é fantástico.

O momento em que um dos nossos antepassados descobre que tem o poder de criar e destruir (criou uma arma para destruir possíveis inimigos) é deveras inspirador.

Kubrick utiliza diversas metáforas e alegorias ao longo do filme, e a maneira como filma o sol a despontar por cima do objecto negro enquanto o macaco destrói os ossos ao som de Richard Strausse, simboliza perfeitamente o “nascer do homem”. Fantástico!

Mas não é a única sequência genial. O filme tem mais algumas e todas elas quase inacreditáveis.

Terminando o primeiro acto, passamos para um estágio de evolução em que dominámos as máquinas e em que já conseguimos caminhar fora do planeta Terra.

Logo no início, somos presenteados com uma espécie de dança espacial entre naves espaciais ao som de Danúbio Azul de Johan Strausse. É um take longo que impressiona. Ainda para mais quando estávamos em 1968!

Os efeitos especiais são um dos pontos altos do filme.

Convém dizer que quando o filme saiu, o homem ainda não tinha pisado a lua! Mas ali estava ela. Numa tela.

Mas não seria só a representação da lua que deixaria as pessoas impressionadas. Posso afirmar que, pelos standards actuais, os efeitos especiais do filme não mostram a idade que têm. Inacreditável, como Kubrick e os restantes envolvidos o conseguiram.

Hal, o super-computador, é outra das metáforas utilizadas por Kubrick. Hal é um espelho das nossas fraquezas e das nossas grandiosas capacidades, enquantos seres-humanos.

Fomos capazes de construir uma máquina, que ganhou consciência dela própria! Questionou o seu lugar na missão e até matou com medo de ser desligada.

A cena em que Hal é desligado é outra cena inspiradora. Hal diz repetidas vezes que SENTE a sua mente a desaparecer e que tem MEDO, perante o olhar assustado e perplexo de quem o está a desligar. Á semelhança de nós, Hall tem/ganhou medo de deixar de existir.

O final deixa espaço para múltiplas interpretações e é, vamos admitir, estranho. No entanto, a visão da Star Child (Criança das Estrelas), após milhões de anos de evolução a olhar para a sua casa, é canto do cisne; o culminar de algo épico e de transcendental.

Penso que Kubrick mostra optimismo da evolução da humanidade.

É legítimo questionar o nosso lugar no Universo. É legítimo questionar para onde vamos. Mas também é legítimo pensarmos que temos algo a dizer nesta grande esquema que é o Universo. É legítimo pensarmos que no futuro seremos melhores.

Já falei tão bem do filme que provavelmente deverão pensar que não vi defeitos. Não é verdade, pois existem momentos que, na minha humilde opinião, estragam o ritmo todo. Isto acontece mais já para lá de meio do filme.

Existe uma sequência em particular que deverá irritar a maioria das pessoas, que é o longuíssimo take do astronauta que vai recolher uma peça avariada.

Compreendo perfeitamente a opção de Kubrick em filmar em completo silêncio. O espaço é silencioso. Não se ouve nada. Absolutamente nada. Mas a respiração dele a rasgar o vazio ao fim de alguns minutos irrita. Ou, por outro, lado deixa as pessoas mais desconfortáveis. A mim deixou-me!

É curioso como escrevi tanto acerca do filme, quando comecei por dizer que seria difícil explicar por palavras.

Parece que vi, efectivamente, uma obra-prima!

imdb trailer

10/10

11 opiniões sobre “2001: A Space Odyssey (1968)

  1. Penso que “o longuíssimo take do astronauta que vai recolher uma peça avariada” é propositado de modo a nos transmitir, ao máximo, o desconforto experimentado pelo próprio personagem. Parece-me tratar-se de mais uma metáfora de Kubrick: o homem e a sua desmedida ambição de evoluir tecnologicamente, acaba por não estudar bem os prós e contras das suas invenções, dando passos maiores do que as próprias pernas… Em diversos takes Kubrick demonstra que o homem não está à vontade no espaço. Alguém disse que o mestre da Terra é um peixe fora de água no espaço. Penso que é isso que Kubrick pretende demonstrar.

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    1. Olá Cláudia!

      É uma opinião muito interessante, sim senhor. Talvez fosse isso mesmo que Kubrick quisesse demonstrar.

      A verdade é que esse Take conseguiu deixar-me pouco á vontade…

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  2. Para mim também é uma obra prima.
    Um filme fabuloso que nos mostra o quão insignificantes somos quando estamos fora do planeta, na insignificância do Universo, dependentes de um HAL.
    11/10 que é atribuído a uma obra prima de um realizador doutro planeta.

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  3. Obra-prima para mim… sem dúvida alguma.
    A cena que te mais irrita, a mim acho que está genial… no espaço não existe som, ou seja só ouvimos o respirar do astronauta, porque de certa forma (e isto é o que sinto) Kubrick quer que sejamos nós a ser “O” astrounata, ou seja, só ouvimos o nosso respirar quando lá estamos em cima no espaço, no vazio…
    Amei, adorei, é simplesmente genial!
    Bjks

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  4. É um magnifico filme sci-fi com um nível de realismo que até parece verdade tudo o que nele assistimos. E Kubrik imaginou coisas tão certeiras num tempo bem antes de o Homem chegar à Lua. É um filme prodigioso na história de todo o cinema sci-fi. Não é um filme de ver muitas vezes ou em curto espaço de tempo (de longe a longe é melhor) pois a sua visualização ganha muito quando nos deixamos distanciar um pouco dele. Torna-se mais interessante até com o passar dos anos.
    “2001” é a odisseia da humanidade colocada á prova por uma intervenção externa (Deus? Extraterrestre? Os “outros”?) numa elaboradissima reflexão que avança desde o primitivismo aos tempos modernos e culmina em tom metafísico.
    Tem elementos que marcaram-me eternamente, como as cenas dos primitivos logo ao inicio, aquele insólito monolito, as naves no espaço ao som de música clássica e todo o conflito de homem vs máquina (inteligência artificial) com um final “greater-than-life”… fazem dele um dos mais incontornáveis filmes que já vi (e vou revendo quando surge a oportunidade).

    Este comentário que te deixo, é um excerto de: http://armpauloferreira.blogspot.com/2010/10/um-realizador-stanley-kubrik.html

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