Eu queria ter gostado deste filme de forma expressiva. Queria ter embarcado numa jornada de sensações que culminariam num explosivo cocktail de prazer, onde ficaria, pelo menos, meia hora a refletir profundamente e a acenar afirmativamente com a cabeça, embrenhado nos meus pensamentos:
«Foda-se, isto sim, é um filme. Genial Iñárritu. Genial DiCaprio.»
Nope! Não foi o que aconteceu.
Não quero que me interpretem mal. «The Revenant» tem alguns aspetos muito positivos, nomeadamente a fotografia, as interpretações (especialmente a de Tom Hardy) e a realização (aqui nem sempre) de Iñárritu.
O problema é que o filme é demasiado loooongo. A história é simples. Ao fim e ao cabo, trata-se de um survival em que o protagonista, que perdeu a família toda, deseja apenas vingança.
Nada contra. «Gravity», de Cuarón, também tem uma história simples e eu adoro o filme. «Gravity», no entanto, soube dosear o pouco que tinha para mostrar.
«The Revenant», não!
Arrasta-se em demasia pelos planos e sequências de contemplação, tem «munbojumbo» espiritual que em vez de tornar tudo mais intenso, emocional e transcendente, só aborrece e faz revirar os olhos.
Para quê esticar tanto um argumento? Porquê? Ou sou eu que não percebo puto de todo aquele existencialismo profundo?
Além do mais, a sobrevivência da personagem de DiCaprio, Glass, roça o absurdo. Eu até sou elástico, mas existem limites nessa minha elasticidade. Quando vi Glass cair de uma ravina enquanto cavalgava a fugir de uns índios, essa elasticidade quebrou.
Já agora, hipotermia não existia naqueles tempos?
Ao fim e ao cabo, «The Revenant», apesar de tecnicamente notável, acabou por ser um filme frio e distante. Mais ou menos como as paisagens que são mostradas. Lindo de se ver, mas incapaz de criar qualquer ligação genuína comigo.