Filmes com viagens temporais terão sempre paradoxos. Penso que seja inevitável. Nunca se pode mudar nada do passado, porque se se muda alguma coisa, como é que isso aconteceu no presente? E isso vale igualmente para o futuro.
No entanto, é possível ignorar os paradoxos temporais. Esquece-los um pouco, e tentar apreciar a história. Sem complicar demasiado.
E foi exatamente isso que aconteceu com Predestination.
Sei, perfeitamente, que aquilo que acabei de assistir é um belo de um paradoxo (e do catano mesmo). Sei, que, nada poderia ter acontecido da forma como aconteceu. A lógica perde-se algures, se se pensar nisso.
Mas, merda para a lógica, em Predestination.
Quando um sujeito se senta ao balcão de um bar e faz uma aposta com o empregado, em como consegue contar-lhe a melhor história da sua vida, pensei para mim: mau, não me digas que vem aí muito blá, blá, blá, whiskas saquetas.
A verdade é que, vinte minutos depois, estava colado ao ecrã. Atento ao que ia acontecendo. Incrivelmente cativado pelo bizarra, triste e tocante história que o tal homem ia contando.
E, por essa altura, o filme ainda não estava em alto mar. Tempestuoso. Ainda eram águas calmas. Muito calmas. Mas, mesmo assim, já se notavam algumas ondas mais provocativas.
Vinha aí alguma coisa. E alguma coisa em grande.
E quando veio, o ciclo completou-se de forma brilhante.
É um filme mind-fuck, ou seja, preparem-se para serem surpreendidos e até, se sentirem meio perdidos com o que está a acontecer. É aquele filme que tem cenas que nos fazem pensar: “mas que merda? O quê? Como?”
E é também um filme que consegue ser um estudo bem pertinente, acerca da condição humana. Das nossas escolhas, da forma como encaramos o nosso destino. Se o podemos evitar. Se nos iremos tornar numa pessoa totalmente diferente daquela que éramos a dada altura. Se estamos predestinados, se temos algum objetivo maior reservado.
Excelentes interpretações de Ethan Hawke e Sarah Snooke. Principalmente de Snooke, que faz de duas pessoas diferentes, de forma excecional. E este é o seu primeiro filme! Estreia auspiciosa, devo salientar.
Cinematografia muito boa, com uma realização fantástica dos irmãos Spierig.
Predestination apanhou-me completamente desprevenido. Tirando o problema óbvio com os paradoxos, é uma história tão surreal, como tocante. Criou em mim um impacto que, sinceramente, não estava à espera.
Talvez quando o vir pela segunda vez, esse impacto seja bem menor. Por agora, é um filme que entra diretamente para as melhores experiências que tive em 2014.
Foi o último filme que vi no ano. Não podia terminar melhor.
2 opiniões sobre “Predestination (2014)”