Será possível que a história de amor entre uma pessoa e um sistema operativo, consiga cativar? Por mais estranho que pareça, sim. Her, o mais recente filme de Spike Jonze é uma história de amor estranha, mas incrivelmente tocante.
Verdade seja dita, todas as histórias de amor são um bocadinho estranhas. Mais que não seja, porque nós, quando estamos apaixonados, ficamos num estado que transcende todas as explicações racionais.
Ficamos estranhos. Quem as vive, não se apercebe. Mas os outros vêm essa estranheza. E acham ridículo. No entanto, toda a gente, em certas alturas da vida, fica assim. E, por isso mesmo, é uma estranheza que se compreende.
Her, o filme, é o amor ridículo e estranho. Quem no seu perfeito juízo iria apaixonar-se por um sistema operativo?
Agora é um bocado impossível. Não existem sistema operativos inteligentes, nem nada que se pareça. Mas no universo de Her, um futuro talvez não muito distante, já.
Theodore, é um homem solitário que se separou recentemente da sua mulher. Passa os dias a pensar nos bons momentos que viveu com ela, e a escrever cartas de amor para outros casais. Sim, essa é a sua profissão. Suponho que seja uma profissão perfeitamente aceitável no futuro, uma vez que parece que caminhámos cada vez mais para um tempo em que as emoções são negligenciadas.
Certo dia, é anunciado um novo sistema operativo, o OS1. O OS1 é um novo conceito, um sistema inteligente que aprende com o seu utilizador. Convive com ele, fala com ele. Uma inteligência artificial amigável.
Theodore decide comprar o OS1, que se batiza a si próprio, depois de ter sido instalado, com o nome Samantha (voz de Scarlet Johansson) e, rapidamente, nasce uma ligação entre os dois.
Até que se ambos se apaixonam. Uma relação estranha e ridícula. Mas não são todas as relações assim?
A estranheza deste conceito pode afastar algumas pessoas. Mas acreditem que o filme está muito bem desenvolvido. E é bem mais que apenas uma história de amor. Obviamente que soa a estúpido, mas é algo que é muito possível de acontecer.
O futuro em Her é bastante solitário. Existem pessoas, ditas normais, mas a maioria vive em constante contacto com a tecnologia. As pessoas na rua falam sozinhas, com vozes artificias, sem desviar os olhos dos ecrãs dos telemóveis.
Já se vê muito disso hoje em dia. E falar com essa vozes artificiais já começou. A Siri da Apple, o Google Now da Google ou a Cortana da Microsoft, ainda só respondem a perguntas, mas com a evolução será normal começarem a falar “mais normalmente”. Quase sem darmos por isso, teremos uma espécie de secretária que nos irá tratar de tudo (avisar de reuniões, do tempo ou dar sugestões). Tal como Samantha.
Os ciúmes de Siri por Samantha, já se fazem sentir. (fonte: Wired)
Samantha é, talvez, uma amostra de como será o nosso possível futuro. Uma entidade artificial, sem corpo, mas com uma voz sexy para caramba, que nos fará companhia para todo o lado.
Será assim tão estranho, alguém apaixonar-se por essa entidade, que aprende connosco, que evolui e que parece nos compreender? Será? Especialmente se esse alguém se sentir solitário?
A história é tão bem contada, que damos por nós a compreender toda aquela relação. Sim, algumas coisas ainda parecem demasiado esquisitas, mas tudo o resto compensa. E não é só a história de amor. É um ensaio acerca das pessoas e da forma como elas interagem umas com as outras.
Theodore, especialmente, é um indivíduo que até está longe de ser o geek introvertido que não fala com ninguém. É simpático e afável, mas parece não saber lidar muito bem com emoções. Talvez por ter nascido numa sociedade cada vez mais “artificial”.
O elenco está excelente. Samantha ganha personalidade através da voz de Scarlet mas, Joaquin Phoenix, é tão bom ator que até dói. Todas as nuances, as suas expressões, são perfeitas. Existe sinceridade na sua entrega e ela passa para nós. Incrível.
Depois temos uma enorme realização de Jonze (Where The Wild Things Are), subtil mas extremamente visual e “presente”, a fotografia soberba de Hoyte Van Hoytema e maravilhosa banda sonora dos Arcade Fire.
Fui apanhado de surpresa por Her. Sem dúvida. Talvez não seja um filme que agrade toda gente, por contar a história de amor entre um humano e um sistema operativo. No entanto, acreditem, soa bem mais a ridículo do que realmente é.
Tudo se conjuga harmoniosamente, nesta brilhante e estranha historia de amor. Uma linda carta de amor cinematográfica, cheia de poesia, beleza e momentos tocantes. Muito bom!
Para mim, foi um dos melhores filme que vi este ano e recomendo-o vivamente. Uma ótima experiência.
Sometimes I think I have felt everything I’m ever gonna feel. And from here on out, I’m not gonna feel anything new. Just lesser versions of what I’ve already felt.
A voz é da sensualona Scarlett Johansson. Só por isso já vale a pena 😉
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